Deito-me no teu colo e desfruto desta luz branca que me ilumina a face
Sinto o calor do teu corpo aquecer as minhas bochechas duras
Haverá melhor cenário do que ter-te aqui a afagar o meu cabelo que brilha sob esta lua?
A paz invade a minha vontade de pedalar neste horizonte
Sinto-me um Harry Potter nesta bicicleta imaginária
Pedalo com força...ufa...ufa
Vejo o meu reflexo na contra luz do luar
Subo mais um pouco e vejo-nos cá de cima...
Ei!!!!
Consegues ver-me aí de tão longe?
Mais umas pedaladas e desço para me juntar novamente no teu colo
Tenho a cara fria da neblina da noite
Voltas a aquecer-me com o teu corpo
A minha face agora está rosada
Não sei de do calor se do embaraço de te ter tão junto do meu desejo envergonhado...
Volto a ser um menino quando te tenho junto a mim
Volto a sonhar quando sou invadido pelo teu corpo de violino
Escuto a tua música
Agrada-me esta melodia
Sinto-me agora novamente a pedalar nas tuas curvas
O teu corpo enfeitiça-me
Como gostaria de não mais acordar deste momento
Cristalizo nos teus olhos
Morro no teu regaço
Nasço no teu amor...
Dá-me a tua mão e anda pedalar comigo
Dá-me a tua luz e cega-me com o teu amor
Ama-me como se não houvesse amanhã ...como se não houvesse hoje
Cora comigo...
Vamos rir-nos dos tontos que passam
A lua agora está ao alcance das nossas mãos de borracha
Sentes?
É fria, não é?
Parece algodão doce...
sim, igual aquele que comíamos quando éramos meninos
Valerá a pena resistir a dar uma lambidela?
Não...não sejas tímida!
Somos apenas nós nesta noite branca
Nós e a nossa bicicleta que pedala no infinito
Que paisagem têm os teus olhos verdes!
Que odor a camomila soltam os fios dourados do teu cabelo!
Sinto a tua mão suada contra a minha mão tímida
Quero-te para sempre
Sempre te quis
Agora somos um só debaixo deste luar que nos ilumina o desejo...
És o meu violino
És a música que me adormece...
Michel Martins
Voo Tap Paris - Porto
07-01-2016
Sopro-te ao ouvido para te acordar
Sussurro-te as palavras d'outrora...sim, essas mesmas,
Aquelas que conquistaram o teu coração
O vento lá fora assobia por entre os castanheiros e afaga o pêlo do nosso cão
Este inverno tem sido implacável...brrrrrr, que frio !
Fecho as cortinas e somos novamente só os dois
Gosto de fechar-me para o mundo e ser só teu
Como mereces este tempo só nosso
Como mereces ter-me aqui só teu, tão teu, tão nosso.
Fechamos-nos para o mundo...ah, ah, ah
Nada nós impede de esquecer que o relógio não pára,
Nada nos impede de rir dos tolos lá fora...
Que falta de respeito...hi hi hi,
Somos uns egoistas, uns malvados sem dó...
Gosto deste insano sentido de humor
Gosto dos teus caracois dourados como a chama desta lareira
Gosto de ti como quem gosta da preguiça do domingo,
Aquela que nos agarra à nossa cama, e nos faz gritar de prazer,
Pobres vizinhos,
Cinzentos e amargos como o nosso café.
Olho os teus olhos e vejo-me tão menino,
Tão ontem, tão eu...
A vida tem destas coisas,
Morremos para renascer neste regaço que é o teu colo,
Mas,
Nascer ou morrer que importa, se o tempo parou cá dentro,
No lado de dentro das nossas cortinas, o tempo somos nós,
Puxamos a alavanca e o tempo pára...puxamos novamente e...upa,
Já passaram mais uns minutos e, mais uns cabelos que ficam da cor da neve...
Não mexas mais na alavanca, deixa estar assim,
Vamos gozar estes momentos que a cortina não deixa fugir
O cão não pára de ladrar lá fora,
O cão não pára de mudar de pêlo...coitadinho, também quer entrar,
Quer viver para sempre,
Quer partilhar o lado de dentro das nossas cortinas.
Volto a sentir o doce dos teus lábios e o calor dos teus seios no meu peito,
Volto a ter-te em mim,
Que bom é não precisar de acordar deste momento mágico,
Este pêndulo, que é o balançar dos nossos corpos, faz-nos levitar
Lá do alto parecemos só um,
Que vizinhos cinzentos os nossos,
Encosta-te a mim e faz-me esquecer que o cão ladra lá fora!
Michel Martins
Voo TAP Paris - Porto
22-01-2016