Mão
Eu estou aqui,
como no tempo em que éramos dois cúmplices,
apenas não ouço a tua voz e não sinto a tua mão quente.
Estico o braço e não te consigo tocar.
Estamos a brincar às escondidas,
como quando éramos crianças?
Mas já chega de esconde esconde!
Agora diz sim,
Aparece!
Quero-te alcançar, nem que seja de raspão
Vou ganhar esse jogo que já perdeu a graça!
Eu sou os pés que caminham na tua direcção,
E fazem sombra na calçada de pedra,
Onde muitas vezes rasgámos os joelhos…lembraste?
Apenas as nuvens mudaram de lugar,
E o frio já não é o mesmo frio!
Mas, nós ainda podemos ser os mesmos,
temos é de fingir que o relógio parou!
Não contes a ninguém…está bem?
Afinal sempre partilhamos segredos,
e, os amigos são para isso mesmo…
Vamos saborear este reencontro,
e começar de novo…nem que seja a fingir,
como quando nos vestíamos de índios e atirávamos setas imaginárias ao sol,
ou quando eu e tu voávamos na vassoura que esperava por nós todas as manhãs.
Como é que tudo passou tão depressa?
Eu não queria sentir essa saudade,
que faz gelar a minha mão!
Michel Martins
Desinspiração de um louco
Todo a canção tem a mão de quem um dia se perdeu em palavras,
De quem se embriagou pelo néctar das emoções,
Hoje escrevo já tocado pelo sono, mas lúcido pois meu pensamento é teu,
Mereces a minha atenção…
Gostaria de te tocar com estas mãos de borracha,
Que esticam e tentam alcançar-te,
Não te chego…
Vou pôr-me em bicos de pés
E tentar tocar-te no ombro
Michel Martins
Luzes de Paris
Paris,
Onde os amores se encontram,
Onde os olhos se fundem ,
Onde os beijos têm o sabor do pecado,
Onde eu e tu somos um só...
Aqueles que renascem para se amarem de novo,
Eu, tu, nós...
Pecar nesta cidade tem o sabor das estrelas,
Quero pecar contigo,
Quero perder-me em ti...no teu ventre, nos teus lábios, no teu corpo feito meu,
Só tu sabes sorrir em Paris
Só tu sabes ser minha
Maravilhosa criatura
Maravilhosamente minha...
Aquela que me faz sonhar
Aquela que me faz recuar no tempo
Neste céu de pecado
Neste céu de Paris
Paris que amo
Paris que me viu nascer
Paris que me vê amar-te!
Hoje, amanhã...sempre!
Sempre teu, sempre nosso
Sempre os dois...amantes eternos
Meninos de ontem...amantes de hoje
Hoje sob o céu de Paris
Apenas os dois
Um sonho feito nosso...aquele sonho
Sob o céu de Paris
Hei-de amar-te em Paris
Hei-de amar-te onde quer que estejas
Mas hoje Paris é nossa
Paris das luzes
Paris dos que se amam e esquecem os outros
Memórias de um sonho a dois
Um sonho de meninos jurados amantes
Suspiro por ti, para ti, contigo no pensamento
De mãos dadas neste sonho de amor
De mãos dadas neste sonho de cidade
De coração dado sob as luzes de Paris!
Paris, 26 de dezembro 2014
It's raining again
Ouço o tilintar da chuva no telhado,
Onde o gato preto aquece os pés,
Neste telhado de zinco,
Sempre quente, sempre nosso, sempre o teto que nos refugia nas nossas noites de amor...
Hoje a chuva é a minha única companhia,
a virgem que se recusa a despir,
E que me mata de desejo,
Que mata o desejo,
Que desejo,
Que te desejo!
O gato hoje roça no telhado, afaga a chuva, acaricia o corpo na chuva que cai...
E chove novamente...
Penso em ti...
Penso em nós...
Penso no amor que fazemos
No amor que precisamos de fazer
No amor que todos os dias renasce para se reinventar...
Só nosso...
Para nós, por nós...quais amantes egoístas,
Loucos adolescentes,
Debaixo deste telhado de zinco preto
Que hoje estala de desejo e se excita com as carícias da chuva morna...
Eu também desejo os nossos momentos,
Sim, esses que nos fazem corar
E que o barulho da chuva disfarça...
Loucos gemidos que saem das nossas bocas
E ,
Chove novamente...
Chove sem parar...
Michel Martins, In flight Paris - Porto
November, 14th, 2014
A dois
Esta noite sou teu,
Apenas teu,
A alma que procuras na escuridão
A parte que faltava em ti...
Apenas eu preencho o vazio que te tortura,
Mas quem sou eu?
Uma alma na escuridão, a parte do nada que para ti é tudo?
Do nada podemos fazer tudo
Do tudo podemos fazer nada...
Vale o esforço de sermos dois...
Duas almas na escuridão
Duas vontades de querer
Dois corações que se tocam no breu
Querer é poder
Querer é crescer a dois
Dois seres que partilham a vontade de serem um só...
Por ti assalto a caixa de esmolas
Por ti sou quem sou
Por ti desço ao inferno de Dante
Sou eu...
Apenas eu,
O bem querer que tudo quer
A vontade de ser
A vontade de poder
Eu,
Tu,
Nós,
Quase nada
E quase tudo
A vida que se faz a dois
Duas almas que recomeçam do nada
O nada que faz tudo
E,
Assim somos nós os dois
Assim vivemos
Assim amamos
Assim nos amamos
Assim queremos ficar os dois...
A sós...
Tão sós
Tão nós os dois
Tão amantes eternos...
Michel Martins, Paris 8 Dezembro 2014