Passam-me pelos olhos as imagens de um filme do 007, no qual Pierce Brosnan é torturado durante o cativeiro a que esteve sujeito…
Assim é estar longe de casa, numa terra onde nos sentimos estranhos, onde nos sentimos observados a cada passo que damos, tal é o fosso de diferença que nos separa deste povo que com muita desconfiança nos acolhe.
Estar expatriado, neste caldeirão de ideias e hábitos completamente diferentes dos nossos, é lutar para que os dias passem a voar, na esperança que o trabalho absorva a nossa alma, e deste modo a nossa cabeça não tenha de ser assaltada por imagens que nos dilaceram o coração…as imagens de quem tanto amámos…as lembranças de quem nos fez vir para cá, tal é o querer que por eles temos.
A dificuldade não é estar longe de quem gostamos, pois isto é muito mais do que isso…difícil é saber quanto tempo aguentamos a ser torturados…1 mês? 1 Ano? 2 Anos?
Seremos os mesmos depois desta experiência?
Queremos ser os mesmos?
Volta-me à lembrança a frase exposta à entrada de uma igreja no Loire: “Se todo o tempo é presente, então todo o tempo é eternidade”.
Quero que todo este tempo seja passado, e que o presente seja apenas mais um dia que já é passado.
A minha tenacidade ajuda-me a erguer esta pedra que carrego e que logo logo será pousada num recanto qualquer da minha memória, e onde teimarei em manter fechada a sete chaves.
Da mesma forma que nunca deveremos voltar ao lugar onde já fomos felizes, também acredito que deveremos deitar fora a chave dos lugares que fundo cavaram as masmorras da nossa solidão e infelicidade.
Tão apenas quero pular para o dia de amanhã, e deixar voar o tempo que tudo apaga…
Gostaria, agora, de estar a ouvir a “Trova do Vento que passa”, de Manuel Alegre.