Sábado, 28 de Abril de 2007
Sonho de Criança
Na morte de Manuela Porto
"Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados,
fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhãs,
convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer:
"Fulano de tal comunica ao mundo que vai transformar-se
em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio."
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros,
olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir à despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio."Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes… (primeiro, os olhos
…em seguida, os lábios…depois os cabelos…) a carne,
em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo…
tão leve…tão subtil…tão pólen…como aquela nuvem além (vêem?)
- nesta tarde de Outono ainda tocada por um vento de lábios azuis…"
José Gomes Ferreira
Quantos de nós não imaginaram, ao olhar para uma nuvem, que a mesma nos recorda a forma de um qualquer objecto?
Será que alguma delas foi a transformação de um qualquer sonhador, que decidiu arrancar os pés do chão e perseguir "aquele sonho de criança"?
Naquela nuvem, ali à esquerda, vai um piloto de Fórmula 1, na outra ao centro, vai um Piloto de avião, na outra a seguir, vai um bombeiro, na outra, um polícia, na outra...
Quantos sonhadores estarão neste momento a transformar-se em nuvem, a transformar-se no sonho de criança?
Afinal, é tão bom sonhar!
Quarta-feira, 25 de Abril de 2007
Vampiros
Zeca Afonso
No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés de veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem Amtudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas
São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei
Eles comem tudo
E não deixam nada
No chão do medo
tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
E não deixam nada.
Ainda existirão Vampiros? Ainda existirá a censura? Existirá, ainda, o medo de falar o que pensamos?
Afinal não existe Democracia, desde 1974? Isso não será o garante para gritarmos o que nos vai na alma?
Pois, pois...
Segunda-feira, 23 de Abril de 2007
Dia Mundial do Livro
A propósito do dia que hoje se comemora – Dia Mundial do Livro – sugiro a leitura de um livro que marcou os meus encontros literários: A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón.
Trata-se, numa primeira análise, da homenagem ao poder sedutor e inebriante dos livros e, como enredo, de uma história de amor vivida, ou pelo menos tentada viver, por algumas personagens da história.
Tudo começa em Barcelona, em 1945, e tem como protagonista Daniel Sempere de 11 anos.
Ao ver o filho triste por não conseguir recordar a mãe já falecida, o pai de Daniel dá-lhe um presente inesquecível: numa madrugada Daniel é levado pelo pai a um misterioso lugar: O Cemitério dos Livros Esquecidos, uma biblioteca secreta que funciona como depósito para obras esquecidas pelo mundo, à espera de que alguém as encontre!
É lá que Daniel encontra um exemplar de A Sombra do Vento…
Para que os nossos livros não vão parar a um “Cemitério de Livros esquecidos”, vamos ressuscitar os bons hábitos de leitura e, quem sabe, se a Sombra do Vento não será um bom recomeço!
Boas leituras!
Domingo, 22 de Abril de 2007
Viver sempre também cansa
Ouvi, em tempos, alguém dizer que nunca conseguia ser realmente feliz, ou melhor, que nunca conseguia atingir o máximo da felicidade, já que tinha sempre a sensação que aqueles momentos de alegria eram efémeros, fugazes, passageiros! Por isso, aquela pessoa como que teria um “limitador” de felicidade! Muitos de nós não se fecharão na sua concha, com medo que o sabor doce da felicidade se transforme, rapidamente, no amargo da tristeza? Estaremos condenados a “estar quase lá”, e no fundo a nunca “lá chegarmos”?
E como diria José Gomes Ferreira: “Pois não era mais humano morrer por um bocadinho, de vez em quando, e recomeçar depois, achando tudo mais novo?”! Quem sabe, se não será esta a fórmula para que o “quase lá” se transforme num “aqui já”!
E o fim-de-semana acabou…
Sábado, 21 de Abril de 2007
Eternidade
“Se todo o tempo é presente, todo o tempo é eternidade!”.
Seguindo este espírito de aproveitamento máximo dos bons momentos que a vida nos reserva, esqueçamos o passado e não dêmos demasiada importância ao futuro pois, é dos momentos presentes, das boas companhias – sim aquelas que estão, incondicionalmente, ao nosso lado – que a vida é vivida com a máxima força.
Um bom começo de fim-de-semana!
Sexta-feira, 20 de Abril de 2007
Velho Freud
E, porque este post inaugura o meu blog, achei por bem tecer alguns breves comentários a propósito de:
"Nós poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser tão bons!" - SIGMUND FREUD
Pois bem, andamos incessantemente em busca da perfeição, do querer fazer melhor, do querer surpreender-nos a nós mesmos, que acabamos por fazer exactamente tudo aquilo que menos queríamos! Não seria mais fácil deixar a vida acontecer com naturalidade, sem pressões interiores, ao ritmo dos nossos mais fluídos sentimentos?
E, usando uma antiga frase que ouvi "o tempo foge, a eternidade avança", vamos aproveitar o que de melhor sabemos fazer: Ser felizes...
Ao ritmo da nossa alegria, saudações desta blogosfera.